Consegue imaginar ir a um show da Taylor Swift e encontrar fileiras e mais fileiras de cadeiras vazias? Exatamente, isso não aconteceria.
Mas no último fim de semana, para uma ocasião importante no Estádio de Wembley, havia setores inteiros de arquibancada sem ninguém.
A situação chegou a um ponto crítico, já que a simples economia de ir a jogos na capital se tornou evidente no domingo passado, quando Manchester City e Nottingham Forest, dois grandes clubes localizados a muitos quilômetros de Wembley, se enfrentaram por uma vaga na final.
O que recebeu os milhões de telespectadores ao redor do mundo, ansiosos para assistir à competição de futebol mais antiga de todas? Milhares de cadeiras vermelhas de plástico sem uso.
Primeiro, não é uma boa imagem. As emissoras de TV não ficarão nada satisfeitas com isso.
Tentar “vender” um torneio quando há muitas cadeiras vazias é difícil, senão impossível, e isso prejudica a imagem da competição.
Muito se fala sobre a “magia” da FA Cup, mas a cobertura de TV de domingo levará muitos a questionar por que os torcedores não estão comparecendo.
Isso não é uma crítica ao City de forma alguma. Eles são um dos clubes com maior torcida, mas só conseguiram vender 27.000 dos seus 36.230 ingressos disponíveis.
Esta foi a 29ª viagem deles a Wembley desde que o estádio foi reformado em 2007, então é compreensível que uma certa “fadiga de Londres” tenha se instalado.
Os preços dos ingressos custavam entre £30 e £150 (aproximadamente R$ 190 a R$ 950, na cotação atual), e ainda há a viagem de ida e volta de 400 milhas (cerca de 640 km).
Some a isso comida e bebida, além da roleta russa de conseguir pegar um trem, e você pode entender por que milhares de torcedores fervorosos disseram “chega”.
Pedir a dois clubes que viajem tão longe de sua base de fãs não é apenas caro, é também ilógico.
Por que não usar locais de alta qualidade muito mais próximos, como Villa Park ou Old Trafford?
Wembley deveria ser reservado para a final. Você pode pensar que isso é tradicionalismo, mas algumas tradições valem a pena preservar.
Sempre houve uma aura especial em torno de Wembley, e chegar lá era uma espécie de El Dorado do futebol.
Ao sediar as semifinais lá, a FA diluiu sua própria competição, com o resultado de que havia mais de 17.000 cadeiras vazias no domingo.
Não é como se isso fosse uma ocorrência rara, já que a semifinal da FA Cup de 2023 entre City e Sheffield United atraiu menos de 70.000 pessoas no estádio de Wembley, com capacidade para 90.000.
Em 2019, pouco mais de 71.000 pessoas compareceram à semifinal entre Brighton e City.
Penso que é necessário um pouco de bom senso, além de decência comum.
Se dois clubes da capital se encontrarem em uma semifinal da FA Cup, posso ver a lógica em sediá-la em Wembley.
Mas arrastar torcedores do Norte (ou de outras regiões distantes) centenas de milhas até Londres, com os enormes custos envolvidos, parece completa loucura.
O futebol precisa cuidar de suas tradições, e nenhuma mais do que a FA Cup que, desde que começou em 1871, viu 44 clubes diferentes erguerem o famoso troféu.
Ela foi vencida por Blackpool e Burnley, Wimbledon e Wigan, e a FA Cup precisa ser valorizada e respeitada.
Talvez o gol de “mata-gigantes” mais famoso de todos os tempos na FA Cup tenha sido o chute espetacular de Ronnie Radford para ajudar o Hereford (time de divisões inferiores) a eliminar o Newcastle nos anos 1970.
A reação de Ronnie entrou para o folclore, enquanto ele celebrava com os braços erguidos, barriga para fora, boca aberta de descrença.
A reação dos torcedores mostrou o que significava para as boas pessoas de Hereford. Não teria sido o mesmo com fileiras de cadeiras vazias, certo?