A FIFA sempre gostou de grandes eventos, mas a decisão de introduzir um show de intervalo com estrelas, ao estilo americano, para a final da Copa do Mundo de 2026 gerou controvérsia.
Para os fãs de futebol tradicional, isso é um exagero – uma interferência desnecessária na partida mais importante do esporte.
Para outros, é uma evolução moderna, que alinha o futebol com o grande sucesso comercial que é o Super Bowl.
Antigamente, a final da FA Cup sempre tinha um intervalo musical, mas era mais a banda da Guarda Coldstream do que o Coldplay.
No próximo ano, na final em Nova Jersey, os membros do Coldplay foram convidados pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, para reunir alguns artistas para entreter os torcedores no intervalo, como acontece no Super Bowl.
Esperemos que não haja outro incidente como o de Janet Jackson, ou “problema de vestuário” como foi chamado em 2004, quando Justin Timberlake removeu parte do figurino de Ms. Jackson, mostrando mais do que o esperado.
Afinal, a final da Copa do Mundo sempre foi sobre o futebol, não sobre o show de intervalo.
É o auge do esporte, assistido por bilhões de pessoas em todo o mundo, onde a história é escrita e lendas são criadas.
A ideia de que a FIFA agora quer inserir um intervalo de entretenimento ao estilo de Hollywood no que deveria ser uma batalha intensa e ininterrupta pela glória parece desnecessária, para não dizer deslocada.
Com certeza a FIFA não vai querer uma repetição do famoso “Nipple-gate”, então é certo que Dolly Parton não será contratada.
O famoso show de intervalo do Super Bowl costuma atrair mais telespectadores do que o próprio jogo, e artistas como Beyoncé, Rihanna, Madonna, Prince, Michael Jackson e Lady Gaga já se apresentaram.
Com exceção de Janet Jackson, todos eles conseguiram manter suas roupas no lugar.
Tradicionalmente, o intervalo no futebol é uma pausa tática de 15 minutos.
Os jogadores se reagrupam, os técnicos dão instruções cruciais e os torcedores prendem a respiração ou aproveitam para se recuperar da emoção do primeiro tempo. Ou pelo menos beber uma cerveja.
Como os jogadores se sentirão ao ter que esperar mais para recomeçar o maior jogo de suas carreiras? Será que o espetáculo vai tirar o foco do drama esportivo?
Será que os torcedores, emocionalmente envolvidos na partida, querem um show pop quando estão analisando o desempenho de seus times?
Após uma demora de oito minutos do VAR na partida da FA Cup entre Bournemouth e Wolves no último fim de semana, adicionar um longo show de intervalo no Vitality Stadium faria com que os torcedores corressem o risco de perder o último ônibus para casa. E quem vai pagar por isso?
Uma olhada nos preços dos ingressos para a final da Copa do Mundo mostra que os assentos mais baratos já começam em £3.000 cada, então está bem claro quem vai pagar pela diversão — os torcedores.
A próxima Copa do Mundo será sediada pelos EUA, Canadá e México, e a decisão da FIFA de introduzir um intervalo ao estilo show business parece ser uma clara referência à cultura esportiva americana.
O show de intervalo do Super Bowl é um evento global em si, com artistas de primeira linha, produção impressionante e milhões de pessoas assistindo só pelo espetáculo.
Mas futebol não é futebol americano.
E embora a FIFA esteja claramente de olho em novas oportunidades comerciais, a Copa do Mundo não precisa de um impulso de marketing.
Essa mudança faz parte de uma tendência maior — o futebol está sendo cada vez mais moldado por interesses comerciais.
Torneios expandidos, Copas do Mundo no meio da temporada, competições de clubes que esticam os calendários ao limite — as decisões estão sendo tomadas por receita, e não pelo ritmo do jogo.
A FIFA vai argumentar que essa mudança vai “melhorar a experiência do torcedor”, mas parece uma tentativa de vender um produto já premium para um público ainda maior.
O futebol não precisa de uma atração principal no intervalo. As verdadeiras estrelas estão em campo, não em um palco.
Se a FIFA conseguir o que quer, será que veremos DJs no final do jogo? Fogos de artifício antes dos pênaltis? Intervalos comerciais para as decisões do VAR?
O medo é que, uma vez que essa porta seja aberta, as tradições do futebol continuem a se desgastar em nome do espetáculo.
Tudo isso parece muito distante dos dias em que você se aquecia com uma xícara de Bovril enquanto lia o programa do clube no intervalo.
E no sistema de som, o som chiado de Shakin’ Stevens ou Sade.
A final da Copa do Mundo já é o Maior Espetáculo da Terra. Não precisa de um show de intervalo para provar isso.