qui. abr 17th, 2025

Crise Financeira no Futebol Brasileiro: Clubes Gastam Demais e Bolha Ameaça Estourar

Nos últimos anos, o futebol brasileiro tem visto um aumento rápido nos investimentos, impulsionado pelo grande patrocínio de casas de apostas e pela entrada de capital das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs). No entanto, esse modelo de crescimento financeiro pode estar criando uma situação instável, colocando em risco a saúde financeira dos clubes.

Os altos investimentos também têm causado um aumento significativo nos preços de jogadores e salários. Na última janela de transferências, que terminou na semana passada, mais de R$ 1,5 bilhão foram gastos na compra de direitos de jogadores, aumentando bastante os custos dos clubes.

O economista César Grafietti, da consultoria Convocados, comentou: “Não sei se estamos perto, mas estamos caminhando para estourar a bolha. Primeiro, ainda estamos vendo ela crescer. E isso acontece por vários motivos. Um deles é o aumento enorme da receita de marketing, vindo das apostas. O aumento na receita de publicidade e patrocínio que os clubes tiveram por causa das apostas foi muito grande.”

O aumento das receitas, que parece ótimo no início, pode se tornar um problema, levando a um modelo de gestão que não se sustenta a longo prazo.

Além do aumento nos patrocínios, a chegada das SAFs também ajudou a aumentar os preços no mercado, que já estava crescendo. A competição entre os clubes para acompanhar esse crescimento acaba gerando um ciclo de gastos excessivos.

O economista explica: “Existe um processo para organizar as finanças. É preciso renegociar dívidas, investir em infraestrutura, investir em pessoal, fazer as coisas funcionarem, remontar o time. Isso leva uns dois ou três anos para ficar tudo certo e pronto para crescer. Mas o que os donos fazem? Enquanto tentam resolver esses problemas, já começam a gastar para contratar, porque precisam ganhar logo. Os clubes que não são SAFs também aumentam salários e contratam, para não ficarem para trás. E assim, vemos um aumento geral nos gastos, seja em contratações ou salários, que muitas vezes não têm base financeira. Isso vai virar dívida, vai virar problema para todos.”

Esta é a terceira janela seguida em que os clubes brasileiros aumentam seus gastos. Em 2024, a elite do futebol brasileiro gastou mais de R$ 1 bilhão em cada janela de transferências, totalizando R$ 2,162 bilhões na temporada. Esses valores não incluem jogadores que chegaram sem custo, como Memphis Depay, Oscar e Neymar.

Grafietti analisa: “Esses são os dois pontos que podem tornar a situação insustentável. Seja porque os donos não terão mais tanto dinheiro para investir – chega um momento em que não se investe mais dinheiro porque não há retorno. Seja porque os clubes que tentam acompanhar vão quebrar, simplesmente não conseguirão pagar suas contas.”

Se continuar assim, o futebol brasileiro pode enfrentar sérios problemas. Alguns dos principais riscos são:

  1. Clubes falindo: Sem receitas que se sustentem, alguns clubes podem ficar sem dinheiro e quebrar.
  2. Atraso no pagamento de salários: Jogadores podem entrar na Justiça para rescindir contratos e sair dos clubes sem custos.
  3. Punição da FIFA (Transfer Ban): Clubes com muitas dívidas podem ser proibidos de contratar jogadores, prejudicando seu desempenho.

Uma possível solução para evitar essa crise seria criar um sistema de fair play financeiro. Para Grafietti, essa regra deveria vir dos próprios clubes.

Grafietti explicou: “Acho que o melhor caminho é a autorregulação. Se os clubes criarem um fair play financeiro, controlando os gastos, seria o ideal. Talvez seja a forma mais justa de resolver isso. A CBF, hoje, não parece interessada em fazer isso. Então, talvez devesse começar pelos clubes. Hoje, existem dois grupos, a Libra e a LFU, eles poderiam tentar se unir e criar um órgão independente, controlado por eles, para começar a fazer esse controle. Isso ainda não seria como as regras de competição, mas seria um começo para conversar com a CBF e tentar incluir nos campeonatos.” O economista já apresentou um projeto de fair play financeiro para a CBF na época de Rogério Caboclo, mas não foi adiante.

Neymar chegou ao Santos no início do ano
Neymar chegou ao Santos no início do ano (Foto: Abner Dourado/AGIF)

By João Paulo Mendonça

João Paulo Mendonça é um jornalista esportivo experiente do Rio de Janeiro com 15 anos de experiência cobrindo futebol brasileiro. Seus artigos sobre os bastidores dos clubes e entrevistas exclusivas com estrelas em ascensão são publicados regularmente nas principais publicações esportivas do país.

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