Mesmo com um nome que pode ser um desafio para a pronúncia, o talento de Khvicha Kvaratskhelia em campo é indiscutível. Aos 24 anos, o jogador georgiano já construiu uma carreira que muitos jovens atletas sonham: conquistou um Scudetto com o Napoli após 33 anos sem títulos, transferiu-se para o PSG e, em menos de seis meses, ergueu o troféu mais cobiçado da história do clube — a Champions League. Além disso, ele se tornou o maior embaixador de seu país no futebol mundial. Com esse currículo, podemos considerá-lo um dos grandes craques do futebol global? Esta análise completa busca responder: é um gênio do futebol ou apenas um fenômeno da mídia?
Geórgia e Rússia
Nascido em Tbilisi, capital da Geórgia, Khvicha iniciou sua jornada no futebol nas categorias de base do renomado Dinamo Tbilisi, fazendo sua estreia profissional aos 16 anos. Sua passagem por lá foi breve, e logo se transferiu para o Rustavi, outro clube georgiano, onde jogou por uma temporada e começou a atrair olhares internacionais.
O futebol russo, então o principal centro do Leste Europeu, foi o próximo destino, com um empréstimo ao Lokomotiv Moscou. No entanto, foi no Rubin Kazan, entre 2019 e 2022, que o atacante alcançou projeção, destacando-se pelo desempenho acima da média e sendo reconhecido com dois prêmios consecutivos de Melhor Jogador Jovem da liga nacional. Com a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia, retornou temporariamente à Geórgia, atuando pelo Dinamo Batumi em uma curta passagem, até concretizar o salto mais importante de sua carreira.
Napoli
Em julho de 2022, o Napoli oficializou a contratação de Kvaratskhelia, uma transferência que, inicialmente, não chamou muita atenção no mercado, mas que logo se revelou decisiva. Com gols e assistências em suas primeiras atuações, o georgiano destacou-se como titular incontestável no esquema de Luciano Spalletti, que lhe deu liberdade para jogar pela esquerda. Seu desempenho chamou atenção não apenas na Itália, mas também na Champions League, onde foi eleito o melhor jogador jovem da edição 2022/23 da competição, ajudando a equipe a alcançar as quartas de final.
Naquela temporada mágica, o Napoli conquistou o título italiano com o papel de destaque de Kvara, que, ao lado do artilheiro Victor Osimhen, formou uma dupla inesquecível para os napolitanos. O ponta-esquerdo terminou o campeonato como o líder em assistências, com 10 passes decisivos, e marcou 12 gols, recebendo o prêmio de melhor jogador da Serie A. A temporada seguinte foi marcada por um declínio coletivo do time, embora a estrela manteve um desempenho consistente. Em janeiro de 2025, anunciou sua saída do clube, uma decisão que revoltou os torcedores, especialmente porque o time liderava o campeonato e estava a caminho de seu segundo título em três anos, o que se confirmou no final da temporada.
PSG
No PSG, Kvaratskhelia chegou para preencher uma lacuna de estrela em um elenco em constante transformação tática sob o comando do treinador Luis Enrique. Com a quantia de 70 milhões de euros, esperava-se que ele repetisse o protagonismo que o lançou aos holofotes mundiais, agora na França, parte de um dos projetos esportivos mais ambiciosos do mundo — um desafio que ele superou com maestria.
Com participações diretas em gols, tornou-se peça fundamental e garantiu a titularidade na melhor temporada da história do clube, que conquistou a inédita tríplice coroa: Ligue 1, Copa da França e a tão almejada Liga dos Campeões. Com seus domínios de bola impressionantes, dribles e arrancadas, Kvaratskhelia manteve o futebol que já demonstrava ao longo da carreira, provando que chegou para ficar e se consolidar como uma grande referência no cenário mundial, agora em um clube com projeção global.

Afinal, é craque ou só mídia?
Com pouca idade e uma carreira repleta de capítulos inesquecíveis, Kvaratskhelia já realizou o sonho de infância ao se tornar jogador profissional em um país com pouca tradição no futebol como a Geórgia. Seu crescimento técnico e tático foi exponencial, mas seguiu uma trajetória gradual, com passagens pela liga local, depois pela Rússia, e posteriormente por centros mais competitivos como a Itália e a França, uma ascensão natural que lhe permitiu explorar e desenvolver seu talento.
Individualmente, basta observar qualquer vídeo de seus melhores momentos para constatar sua excelência atuando pelo lado esquerdo do ataque, onde costuma ser a válvula de escape do time, responsável por improvisações, dribles curtos ou lances técnicos sutis que desestabilizam a marcação e criam oportunidades claras de finalização ou assistência.
Seu movimento mais característico, amplamente conhecido por adversários, mas ainda assim extremamente difícil de ser neutralizado, consiste no drible imprevisível com ambos os pés, explorando sua ambidestria — uma de suas principais virtudes — e confundindo os marcadores, que nunca sabem em qual direção o ponta-esquerdo conduzirá a jogada. Seja conduzindo a bola em velocidade nos contra-ataques, enfrentando defensores em duelos individuais pela lateral ou participando de triangulações no último terço do campo, Kvaratskhelia demonstra ser um jogador completo, capaz de executar praticamente todas as funções ofensivas com eficiência.
Como se não bastasse toda a sua contribuição ofensiva, Kvara passou a ser cada vez mais reconhecido pela impressionante capacidade física, que lhe permite vencer duelos tanto no ataque quanto na defesa, além do ímpeto competitivo que demonstra nas ações sem a bola, realizando coberturas, pressionando adversários e acompanhando marcações com intensidade e disciplina tática.
Nesse sentido, Kvaratskhelia pode ser considerado um craque ou, ao menos, um talento de enorme potencial — e, embora seja impossível afirmar com certeza, talvez ainda nem tenha atingido o auge de sua carreira. Em oito anos como profissional, demonstrou ser um exemplo de talento lapidado nas ruas, dotado de criatividade e recursos técnicos capazes de o posicionar como um dos rostos mais representativos desta década no cenário internacional.
É verdade que existem jogadores mais goleadores, outros com maior capacidade de criação ou até com habilidade técnica mais refinada, mas o que distingue Kvara é a rara combinação de seu estilo em todos os aspectos do jogo — técnico, tático, físico e psicológico —, o que o torna uma figura que merece a atenção de todos que apreciam o futebol.
A próxima oportunidade de acompanhar Khvicha em campo é nesta Data Fifa de outubro. A Geórgia visita a Espanha neste sábado (11), em partida válida pela terceira rodada das Eliminatórias Europeias da Copa do Mundo de 2026, às 15h45 (horário de Brasília), no estádio Manuel Martínez Valero, em Elche (ESP).