Ex-presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Pepe Mujica faleceu aos 89 anos, na tarde desta terça-feira (13). Além de sua forte ligação com a política, o ex-guerrilheiro era um grande apreciador do futebol uruguaio e torcedor do Club Atlético Cerro.
Morador do bairro operário Rincón del Cerro, Mujica nunca escondeu sua admiração pela equipe de menor expressão. Embora não tenha dado certo como jogador, o político não abandonou seu clube de coração mesmo sem títulos ou grandes conquistas.
– Eu joguei como ponta, mas era ruim. Não há uruguaio que assista futebol de longe. Sou torcedor de um time local, o Cerro. Estou acostumado a perder, mas sou torcedor pela localidade. Gostava de ciclismo, mas sempre segui com o futebol e com o Cerro.
Recordações de Mujica do Uruguai e ídolo da Copa de 1950
Pepe Mujica guardava memórias positivas da vitória do Uruguai na Copa do Mundo de 1950, quando a Celeste derrotou o Brasil no Maracanã. O episódio é lembrado com carinho pela nação, com diversas homenagens no Museu do Futebol, localizado no Estádio Centenário.
– Foi provavelmente uma das maiores emoções da história do nosso futebol. Nunca vi uma comemoração popular tão grande. Ficará comigo para sempre.
Além disso, Mujica considerava Obdúlio Varela um de seus maiores ídolos. Varela foi o capitão do Uruguai na Copa do Mundo de 1950. Em uma entrevista, o ex-presidente comentou sobre a importância da figura do ex-jogador.
– O capitão de 50. Não porque foi um grande jogador – e era – mas houve muitos melhores que ele. Mas era uma espécie de chefe natural, um técnico dentro de campo e todo mundo o respeitava. Um homem muito humilde. Mas aconteceu uma greve de jogadores de futebol no Uruguai que durou um ano e na época que pagavam pouco aos atletas. Ele teve uma conduta esportiva. Era um baluarte dentro de campo.
Críticas à Fifa e ao futebol moderno
Ao longo de sua trajetória, Pepe Mujica foi contundente em suas críticas à Fifa e ao futebol moderno, marcado pelos altos valores de transferências. O político uruguaio defendia suas convicções e politizava o esporte, como evidenciado em sua postura diante da punição aplicada a Suárez na Copa do Mundo de 2014, após a mordida em Chiellini, da Itália.
– Sentimos que foi uma punição aos humildes. É como se tivessem punido Garrincha na história do Brasil. Não tem quem me convença do contrário, vi uma conduta de classe nisso. Nenhum desses senhores importantes da Fifa passou fome ou enfrentou intempéries. Eles têm uma impiedade que não tem relação com o futebol, que é uma festa popular. No dia que não tivermos mais pobres, não teremos mais o luxo de ver jogadores geniais.
Além das críticas à Fifa, Mujica via o futebol como um negócio com discrepâncias, especialmente pelos altos salários dos jogadores. Contudo, o ex-político não culpava os atletas por esses problemas e desigualdades.
– Transformou-se em um negócio. Um negócio que é em parte arte, em parte magia. Mas, é claro, as sociedades modernas e contemporâneas se caracterizam por transformar até mesmo a respiração em negócio. Tudo é negócio. Futebol também. Os salários de alguns jogadores de futebol são ofensivos, especialmente considerando o estado das nossas cidades. Mas a culpa não é dos jogadores. Os jogadores são o pretexto para uma mobilização econômica que gira em torno deles.
Após a morte de Pepe Mujica, clubes como Nacional e Peñarol emitiram comunicados prestando solidariedade aos familiares do ex-político. O Cerro, seu clube de coração, também fez uma homenagem ao seu eterno torcedor.