seg. out 6th, 2025

O ano de 2025 deveria ser singular para o esporte, marcando uma década do “Fifagate”, o maior escândalo de corrupção da história mundial. Essa data importante deveria inspirar debates diários e uma reflexão crucial: o que realmente mudou após o terremoto? À primeira vista, percebe-se que apenas os nomes e os personagens mudaram.

Figuras como João Havelange e Joseph Blatter, juntamente com seus cúmplices, testemunharam o colapso de seu império em 27 de maio de 2015, um marco que muitos consideraram o `fim do mundo no esporte`. Eles eram os líderes de uma rede criminosa que, segundo a justiça americana, gerou `fraude, suborno e lavagem de dinheiro` em escala industrial. Embora esses indivíduos tenham sido afastados, as práticas e os relacionamentos corruptos, em grande parte, persistiram.

Os Mesmos Problemas Persistem

A situação se assemelha a reportagens policiais sobre guerras de facções: os líderes mudam, mas a estrutura dos problemas permanece inalterada.

Um relatório recente da Fair Square, uma ONG britânica focada em boas práticas, revelou que a FIFA “não corrigiu as falhas estruturais que motivaram a intervenção das autoridades dos EUA”. Essa persistência dos mesmos problemas, apenas com uma nova fachada, é a verdadeira tragédia do esporte global, que continua a operar como um mundo à parte, com suas próprias regras e acima da lei.

Logo depois da explosão do escândalo, veio Gianni Infantino. Ele chegou em 2016, vindo de uma história confusa na UEFA, primeiro como executivo, depois na presidência. Infantino já estava envolvido em escândalos de venda de direitos de transmissão, revelados com os vazamentos dos Panamá Papers.

Pelo lado da FIFA, a promessa de Infantino ao assumir era de investimento em governança e transparência. Ele falou em um Código de Ética reformulado, comitês com mais autonomia e um discurso institucional que passou a incluir direitos humanos universais.

“Nos tornamos capazes de mudar o ambiente tóxico da Fifa da época para uma respeitada e confiável entidade global que comanda o esporte”, garantiu Infantino. No entanto, essa afirmação não se sustenta.

Falta de Transparência e Competição

A transparência é um conceito distante da atual gestão da FIFA, que claramente optou por alianças com autocratas. Todos os caminhos da nova FIFA passam por um mundo fechado, de pouca ou nenhuma transparência. O namoro de Infantino com Mohammed bin Salman virou casamento, regado aos US$ 925 bilhões em ativos do Fundo de Investimento Público (PIF), um investimento árabe controlado pelo príncipe herdeiro, com expectativa de chegar a US$ 3 trilhões na próxima década.

O auge dessa parceria foi a decisão pela Copa do Mundo Masculina de 2034 na Arábia Saudita, sem qualquer concorrência interna na FIFA. Bin Salman prometeu à entidade a construção de dez novos estádios, a renovação de quatro existentes e a ampliação de outros três, além de hotéis, reformas no trânsito e outras infraestruturas obrigatórias. Para a “Nova FIFA”, isso é aceitável, desde que garanta milhões aos cofres da organização.

Nem o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em 2018, onde agentes de inteligência dos EUA apontam Bin Salman como o principal suspeito, nem a supressão de direitos humanos na Arábia Saudita — incluindo a proibição de sindicatos, greves, protestos e a falta de proteção para os 13,4 milhões de trabalhadores migrantes em setores de construção e serviços — abalaram a relação da FIFA com o regime.

O recente Mundial de Clubes, vencido pelo Chelsea, ilustrou claramente essa dinâmica. A competição, que Infantino esperava render US$ 2 bilhões em direitos de transmissão, estava encalhada até que uma plataforma pagou US$ 1 bilhão pelos direitos globais, com possibilidade de sublicenciamento. Curiosamente, pouco depois, a mesma plataforma anunciou que o PIF havia adquirido uma participação societária no valor exato de US$ 1 bilhão.

Trump e Infantino
Camisa personalizada da Copa do Mundo para Donald Trump (AFP)

Uma medida acompanhava a venda e eventuais sublicenciamentos: a “Lei da Mordaça”. Para qualquer detentor de direitos, ficou proibido falar mal da competição disputada nos Estados Unidos. Isso já havia acontecido no Catar em 2022. Além de Arábia Saudita e Catar, Donald Trump se tornou um grande aliado de Infantino, garantindo o direito de sediar grandes eventos da FIFA seguidamente. Até o sorteio dos grupos da próxima Copa mudou, passando de Las Vegas para um evento de Trump em Washington, o que gerou um constrangimento inenarrável com sua presença na foto do Chelsea campeão mundial.

A Lição do Fifagate

Uma década após o “Fifagate”, a principal lição parece ser uma verdade antiga: para quem busca dinheiro rápido, ausência total de fiscalização, impunidade, e um vasto potencial para lavagem de dinheiro, as instituições esportivas continuam sendo o lugar ideal. Elas não só atenderão a essas expectativas, como também oferecerão acesso aos círculos mais exclusivos do mundo, aos eventos de maior prestígio, ao glamour e aos holofotes.

By Henrique Oliveira Santos

Henrique Oliveira Santos é um jornalista jovem e ambicioso de São Paulo, especializado em análise do mercado de transferências e análise tática de partidas. Seu olhar aguçado para o jogo e capacidade de prever futuras estrelas o tornaram popular entre os fãs de futebol.

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